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Educação

Veículos de imprensa mudam política de cobertura de ataques a escolas

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Veículos de imprensa anunciaram mudanças na forma de noticiar ataques a escolas. Nos últimos 20 anos, o Brasil registrou ao menos 24 atentados.

CNN, Band, Grupo Globo e Canal Meio decidiram não divulgar nomes, fotos e vídeos dos acusados. A Empresa Brasil de Comunicação já adota esse protocolo em sua cobertura.

As medidas seguem recomendações de especialistas e de instituições para que a imprensa evite usar imagens, nomes e informações de suspeitos, de vítimas e da tragédia. O objetivo é evitar o chamado efeito contágio, que é estimular outros atentados.

Entidades médicas apontam conexão causal entre violência na mídia e comportamento agressivo em algumas crianças.

O Ministério Público de Santa Catarina e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo também pediram que os profissionais de comunicação evitem a exposição de agressores e vítimas.

A professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Danila Zambianco diz que o ideal é não trazer espetáculo e notoriedade para os autores desses atos.

“Não publicizar o seu nome, não publicizar a sua imagem, não trazer detalhes de como a situação aconteceu, de como eles construíram esse percurso. Às vezes, a notícia é quase um tutorial do massacre, de como se fazer. Então esse tipo de informação não tem que ser publicizado, não tem que ser veiculado”, disse.

Danila Zambianco destaca qual seria o papel da mídia na cobertura. “O papel da imprensa precisa focar nas vítimas, na reconstrução daquele espaço, na reconstrução do sentido dessa escola, Cantinho Bom Pastor, para que ela possa adquirir agora um novo significado para essas pessoas, para que essa política pública de promoção da convivência [seja difundida], o acompanhamento disso junto às instituições estaduais, esse é o papel da imprensa.” Ontem (5) um homem invadiu a creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), matando quatro crianças e ferindo três. A Polícia Civil informou que o autor do atentado foi preso depois de se entregar.

Após o ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, em 27 de março, a Polícia Civil de São Paulo identificou, no ambiente virtual ou escolar, um aumento de situações que indicam planos de possíveis ataques em escolas. Em uma semana, foram registrados 279 casos.

-AGÊNCIA BRASIL

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Educação

Pesquisa mostra por que brasileiros deixam escola

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Quando deixou Araioses, no Maranhão, de ônibus e percorreu mais de 2 mil quilômetros até Brasília, em 2017, Maria de Fátima Santos, então com 18 anos de idade, sonhava engatar em uma profissão no comércio e voltar aos estudos. Aos 15 anos, Maria de Fátima tinha abandonado a escola, no quinto ano fundamental, para ajudar em casa.

Ela trabalhava no interior maranhense como diarista. Os livros não tinham espaço, nem eram prioridade na rotina da jovem. Hoje, em Brasília, a escola é só um sonho distante. Atualmente, perto dos 25 anos de idade, ela vive da coleta de objetos no lixo de condomínios para conseguir algum recurso, pagar o aluguel e mandar ao menos R$ 50 para a mãe, que ficou em Araioses.

Da escola, Maria de Fátima diz que sente falta das aulas de matemática. “Eu gostava e iria me ajudar na minha vida hoje.”

Deixar a escola em plena juventude não é raro no Brasil, conforme aponta uma pesquisa realizada pelo Sesi/Senai (Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. Depois dos 16 anos, apenas 15% estão em salas de aula.

”Os dados são fortes. Só 15% da população atualmente estuda. É claro que, na idade escolar, o número sobe para 53%”, afirmou o diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi.

Das pessoas que não estudam, 57% disseram que abandonaram a sala de aula porque não tinham condições. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (47%) para interrupção dos estudos. 

“Um número muito alto de pessoas deixa de estudar por falta de interesse na escola que, muitas vezes, não tem elementos de atratividade para os jovens e certamente esses números se agravaram durante a pandemia”, afirmou Lucchesi.

O levantamento mostrou que apenas 38% das pessoas com mais de 16 anos de idade que atualmente não estudam alcançaram a escolaridade que gostariam.

Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixar de estudar é a gravidez ou o nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez ou pela chegada de um filho é maior entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) – o dobro da média nacional, de 7%.

Preparo

O levantamento revela também que a maioria dos jovens acima dos 16 anos de idade considera que a maioria dos que têm ensino médio ou ensino superior considera-se pouco preparada ou despreparada para o mercado de trabalho.

O levantamento foi realizado com uma amostra de 2.007 cidadãos com idade a partir de 16 anos, nas 27 unidades da federação. As entrevistas foram feitas entre 8 e 12 de dezembro do ano passado.

Entre as pessoas que responderam a pesquisa, 23% disseram que a alfabetização deveria ser prioridade para o governo, seguida pela instituição de creches (16%) e pela ênfase no ensino médio (15%).

A educação pública é vista como boa ou ótima por 30% da população, índice que sobe para 50% quando se fala de educação privada.

Entre os fatores para aumentar a qualidade, os mais citados são o aumento do salário dos professores, mais capacitação deles e melhores condições das escolas.

Avaliação

Pelo menos 23% das pessoas ouvidas na pesquisa avaliaram a educação pública como ruim ou péssima e só 30% a consideraram ótima ou boa. A educação privada é avaliada como boa ou ótima por 50% dos entrevistados.

Para Rafael, Lucchesi, a pesquisa traz uma dura reflexão sobre a necessidade de aumentar a qualidade da educação e também a atratividade da escola e, “como resultado geral, melhorar a produtividade das pessoas na sociedade”.

-AGÊNCIA BRASIL

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Educação

Violência nas escolas: estados definem protocolos de combate

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Governos estaduais divulgaram na última semana protocolos de ações para combater ameaças à comunidade escolar. 

Em geral, a partir das características e estruturas de cada unidade federativa, foi proposto que as secretarias atuem de forma integrada também com os órgãos de inteligência As alternativas incluem, por exemplo, ampliação do policiamento escolar, telefones para denúncia e até medidas como o “botão do pânico”. 

Por outro lado, professores chamam a atenção para o fato de que é necessário aperfeiçoar medidas protetivas, e que as secretarias atuem em rede. 

Diretora do Sindicato dos Professores de Escolas Públicas do Distrito Federal, Luciana Custódio afirma que é preciso evitar militarização de escolas, que tem se mostrado ineficiente. “Temos múltiplas realidades: escolas com estrutura e outras sem condições, em comunidades desassistidas. É preciso que a escola seja, de fato, um ambiente de paz.”

Nas administrações estaduais, o fluxo que deve ser seguido para dar agilidade às denúncias foi pormenorizado para que as reações contra a violência sejam mais rápidas.

Confira propostas do DF e de nove estados

São Paulo

Em São Paulo, o governo do estado anunciou a contratação (temporária) de 550 psicólogos para atendimento nas escolas estaduais, além de mil vigilantes de empresas de segurança privada que vão trabalhar nas unidades, desarmados. Nessas contratações serão gastos R$ 240 milhões.

Segundo o governo paulista, cada psicólogo deverá atuar em, ao menos 10 escolas, e fazer uma visita por semana em cada colégio. Quanto à vigilância privada, o objetivo é que o segurança esteja todos os dias nas unidades.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, o governo estadual criou o Comitê Permanente de Segurança Escolar, com representantes da segurança pública e da Secretaria da Educação para atuar na prevenção às situações de violência nas escolas públicas e privadas.

Também foi apresentado pela Polícia Militar (PM) o aplicativo Rede Escola, inspirado no Rede Mulher. A ferramenta, que deve entrar em operação em até dois meses, vai conectar diretamente os profissionais da rede de ensino à Polícia Militar.

A PM destacou o reforço da patrulha escolar e a criação do aplicativo Rede Escola, que já está em fase de implantação. “Uma ação desenvolvida pela secretaria e em fase de conclusão é o treinamento de gerenciamento de crise e protocolos de segurança para os profissionais da educação”, informou o secretário de Polícia Militar, coronel Henrique Pires. 

Quanto às ameaças, a secretaria tem um protocolo contra ameaças implementado em todas as 1.549 escolas.

Distrito Federal

No Distrito Federal (DF), o governo anunciou, na semana passada, um conjunto de medidas para prevenção da violência e reforço da segurança para as 1.624 escolas e creches das redes pública e privada, além de faculdades e universidades.O reforço inclui aumento no efetivo policial, com a participação de vigilantes. 

Outra ação é a ampliação do monitoramento de perfis em redes sociais com histórico de apologia à violência e também investigação de postagens da deep web (área da internet não encontrada pelas ferramentas de busca, o que é aproveitado para compartilhamento de conteúdo ilegal).

“O efetivo do batalhão escolar da PM está sendo aumentado para estar presente na grande maioria das unidades do DF”, disse o secretário Sandro Avelar, conforme divulgou a agência de comunicação do governo local. 

Mato Grosso do Sul

O governo de Mato Grosso do Sul anunciou reforço da ronda policial nas escolas, com viaturas e helicópteros, ampliação do monitoramento com novas câmeras e um dispositivo chamado de “botão do pânico” para eventuais emergências.

Para usar corretamente o dispositivo, os profissionais da educação passarão por treinamento e capacitação. As ações são consideradas preventivas e terão parceria com iniciativas como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência (Proerd) e os projetos Bom de Bola, Bom na Escola, Projeto Florestinha e Bombeiros do Amanhã.

Outra ação é ampliação de câmeras de vigilância 24 horas por dia nas 348 escolas estaduais do estado. Outra ação foi o lançamento do Núcleo de Inteligência e Segurança Escolar, que será um espaço dentro da Central de Monitoramento das Escolas com policiais que vão acompanhar as investigações. O treinamento para professores em casos de necessidade de evacuação da escola vai ser intensificado, informou o governo.

Pernambuco

Em Pernambuco, o governo anunciou a ativação de um número de telefone exclusivo para emergências escolares (197). A finalidade é que  professores, alunos, pais ou qualquer pessoa que tenha conhecimento de ameaças possa acionar a segurança pública. As informações terão sigilo garantido.

A Secretaria de Segurança Pública enfatizou que a comunicação com as famílias é primordial para o combate à violência nas escolas. Dentre as resoluções contidas no protocolo estadual, está prevista o treinamento dos profissionais como caminho de prevenção, além de ampliação do policiamento escolar. Os trabalhos incluem ainda o videomonitoramento, reforço da patrulha escolar e criação de uma central de monitoramento.

Bahia

A Segurança Pública da Bahia divulgou também um canal para comunicação de possíveis ameaças (reais ou falsas). O número disponibilizado é o 181. O governo informou que as informações serão tratadas de maneira emergencial pela Superintendência de Inteligência e repassadas para as forças policiais

Os trabalhos preveem ainda a intensificação do patrulhamento especializado da Ronda Escolar e das unidades da Polícia Militar. As ações de inteligência e investigação da Polícia Civil têm apoio da Coordenação de Inteligência Cibernética (Cyberlab).

Segundo a Assessoria de Comunicação do governo estadual, o delegado Delmar Bittencourt, coordenador do Laboratório de Inteligência Cibernética da Polícia Civil, garantiu que haverá compartilhamento de dados com outros estados.

Ceará

A Segurança Pública do Ceará anunciou que, além das ações de vigilância nas cercanias das escolas, tem investido em ações de inteligência contra desinformação e perfis que espalham ameaças. 

O governo usa monitoramento realizado pela Coordenadoria de Inteligência. Um dos resultados é que entre 3 e 11 de abril foram identificados 18 perfis em mídias sociais que relataram ameaças. 

As denúncias podem ser encaminhadas para o número 181 ou para o (85) 3101-0181.

Pará

O governo do Pará informou que vai enviar à Assembleia Legislativa do estado um projeto de lei (PL) para instituir o Programa Escola Segura e criar o Núcleo de Segurança Pública e Proteção Escola. 

De acordo com o governo, o projeto viabilizará o monitoramento por câmeras de segurança nas escolas, o fortalecimento da ronda escolar nos 144 municípios do estado e a definição de protocolos de segurança, com participação de psicólogos e assistentes sociais. 

Segundo o governo, o foco é o desenvolvimento de ambientes seguros e harmônicos, com agentes públicos treinados para melhor atender alunos, familiares, a comunidade e equipes escolares.

Amazonas

O governo do Amazonas informou que trabalha na elaboração de projetos para aderir ao edital de chamamento público do Ministério da Justiça e Segurança Pública para o Programa Nacional de Segurança nas Escolas. 

De acordo com o governo estadual, as ações de segurança já estão sendo fortalecidas, com iniciativas nas escolas do Departamento de Prevenção à Violência em parceria com a Secretaria de Educação.

Rio Grande do Sul

O governo do Rio Grande do Sul anunciou a intensificação do policiamento nas proximidades das escolas e o monitoramento dos chamados grupos de ódio. 

Segundo o governo gaúcho, o reforço policial será mantido pelo tempo que for necessário para tranquilizar a população quanto à segurança de alunos, professores e demais profissionais da educação.

O estado também vai promover ações de comunicação para orientar sobre os canais oficiais para denúncias: o telefone 190, para situações de emergência, e telefone 181 para denúncias. Não há necessidade de identificação do autor, e os canais funcionam 24 horas.

-AGÊNCIA BRASIL

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Educação

Entidades e especialistas pedem a revogação da reforma do Ensino Médio

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Com lei sancionada em 2017 e implementada desde o ano passado, a reforma do Ensino Médio está sendo questionada por especialistas e entidades ligadas à educação desde que foi proposta. Esses questionamentos ganharam força nos últimos meses e, na semana passada, culminaram na abertura de uma consulta pública por parte do Ministério da Educação (MEC) para trazer diferentes pontos de vista sobre o assunto. Estudantes e professores marcaram para esta quarta-feira (15) atos pedindo a revogação do Novo Ensino Médio.

A mudança trouxe novas disciplinas e tornou uma parte do currículo flexível para os estudantes. Em 2022, a reforma passou a abranger as turmas de 1º ano do Ensino Médio. Nessa série, porém, o currículo ainda é semelhante ao antigo, apenas com a inclusão de três novas disciplinas: Projeto de Vida, Mundo do Trabalho e Cultura e Tecnologias Digitais.

Foi agora, em 2023, que a transformação principal começou: esses estudantes ingressaram no 2º ano, quando se inicia a parte flexível da carga horária. Nela, os alunos podem escolher entre duas ou mais áreas para aprofundarem seus conhecimentos. Na rede estadual do RS, por exemplo, há 28 trilhas de aprendizagem possíveis, e cada escola precisa oferecer ao menos duas.

Em junho do ano passado, uma carta aberta assinada por mais de 300 entidades ligadas à educação pedia a revogação do Novo Ensino Médio. No texto, é feita uma crítica sobre a interrupção, após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, de um debate que pretendia reformular essa etapa de ensino. Em 2016, a reforma educacional foi apresentada por meio de uma medida provisória, convertida em lei em 2017.

No Rio Grande do Sul, Ângela Chagas estuda a implementação da reforma na rede estadual gaúcha em seu doutorado em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de integrar o Grupo de Estudos de Políticas Públicas para o Ensino Médio da instituição e o Observatório do Ensino Médio do RS.

— Os pesquisadores já apontavam, antes da reforma, uma série de problemas que estão se confirmando agora. É uma reforma imposta, sem diálogo com educadores e estudantes, que traz um estreitamento curricular e reforça as desigualdades educacionais que já existem — afirma Ângela.

Em seu estudo, a pesquisadora verificou que os alunos do 2º ano, hoje, chegam a ter 19 disciplinas, e que mesmo antes da reforma as 13 ministradas já eram consideradas um número excessivo.

— As disciplinas tradicionais estão com uma carga horária menor, e muitas, como Química, Física, Sociologia e História, só têm um período de 50 minutos por semana. Até que o professor chegue, faça a chamada e consiga iniciar a aula, ela já está acabando. Isso reforça a desigualdade educacional, porque, na prática, o acesso a esse conhecimento está sendo sonegado — observa a doutoranda.

Exemplo de São Paulo

Com a maior rede de Ensino Médio do Brasil, São Paulo foi o primeiro Estado a implementar a reforma em todas as escolas. Lá, quem tem se debruçado sobre o assunto é Fernando Cássio, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e integrante da Rede Escola Pública e Universidade, que assina a pesquisa.

A entidade buscou verificar se o Novo Ensino Médio de fato cumpria com suas três principais promessas: dar liberdade de escolha de parte do currículo ao aluno, ofertar uma qualificação profissional e ampliar a carga horária dos jovens, especialmente no turno da noite.

— Observamos que os estudantes, na verdade, não têm escolha, porque a oferta é sempre muito restrita. A maioria das escolas tem poucas salas e poucos professores, então é impossível conseguir fazer uma oferta minimamente representativa daquele cardápio enorme de trilhas oferecido. A maioria dos estudantes acaba não estudando o itinerário formativo que escolheu — pontua o docente.

A diversidade de oferta é menor em instituições localizadas em comunidades mais pobres, em municípios pequenos, em escolas de campo ou indígenas e naquelas que atendem adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, por exemplo. Ainda assim, mesmo nas instituições maiores, a oferta de mais trilhas de aprendizagem se mostra inviável.

— Os diretores acabam preferindo preservar seu corpo docente, porque uma escola com todos os itinerários formativos se tornaria ingovernável. O Novo Ensino Médio desorganiza as escolas. Tem Estados em que há dificuldade até de se emitir um histórico escolar, com tantas variáveis — revela o pesquisador.

Outra promessa da reforma, a qualificação profissional dos estudantes também não foi comprovada. Nesse estudo, muito do que se encontrou em trilhas de aprendizagem ligadas à Educação Profissional foram cursos de curta duração sobre assuntos diversos, que vão desde formas de se apresentar no mercado de trabalho até vendas em redes sociais e noções de Excel.

— Há muitos modelos, mas todos são precários, porque a escola pública regular não vai ter laboratório de química para oferecer um técnico na área, por exemplo. Além disso, não foi explicado para o aluno que se ele quiser um diploma de curso técnico mesmo, vai ter que procurar uma complementação em um curso fora da escola depois — destaca Cássio.

Com relação à ampliação da carga horária entre estudantes do turno da noite, a pesquisa identificou que a expansão acontece por meio de aulas a distância, e não com a criação de maneiras para que o aluno consiga chegar antes à escola.

— Estamos tendo uma chancela de oferecer educação a distância no Ensino Médio, para estudantes sem computador, sem espaço e nem tempo em casa para estudar. Essa é uma política que, se estivesse preocupada com garantir o acesso, deveria oferecer auxílios para a permanência do aluno, o que acontece nas universidade públicas há anos — analisa o docente.

Consulta pública

Com a pressão pela revogação, o MEC abriu, na última quinta-feira (9), uma consulta pública sobre o Novo Ensino Médio. A proposta, segundo a pasta, é “abrir o diálogo com a sociedade civil, a comunidade escolar, os profissionais do magistério, as equipes técnicas dos sistemas de ensino, os estudantes, os pesquisadores e os especialistas do campo da educação para a coleta de subsídios para a tomada de decisão relacionados aos atos normativos” que regulamentam a reforma.

A consulta pública envolverá audiências públicas, oficinas de trabalho, seminários e pesquisas nacionais com estudantes, professores e gestores escolares sobre a experiência de implementação do modelo nas 27 unidades da federação. A consulta terá o prazo de duração de 90 dias, podendo ser prorrogado. Após seu término, a Secretaria de Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino terá 30 dias para elaborar um relatório final, a ser encaminhado ao ministro da Educação, Camilo Santana.

Procurado pela reportagem de GZH, o MEC relatou que “o assunto ainda precisa ser mais debatido antes de se tomar qualquer decisão”, e que a revogação da reforma, por ser prevista em lei, “só pode ser feita por meio de um projeto de lei encaminhado pela Presidência da República”.

Manifestação de estudantes e professores

Estão previstos para esta quarta-feira protestos em todo o país pedindo a revogação do Novo Ensino Médio. A iniciativa é comandada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Em Porto Alegre, uma aula pública está marcada para as 9h em frente ao Colégio Júlio de Castilhos, no bairro Farroupilha.

— Não tem como discutirmos a maneira de ensinar se não resolvermos problemas estruturais das escolas, que, muitas vezes, não têm nem laboratório de informática ou biblioteca, e sofrem com falta de professor. Além disso, os professores não têm formação para dar essas matérias novas — avalia o presidente da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (Uges), Anderson Farias.

A entidade, que representa os alunos do Ensino Médio, entende que é importante que seja debatido um novo modelo de ensino, mas que a implementação não será possível com tantos problemas estruturais nas escolas públicas. Conforme Anderson, em visitas a instituições de ensino para convidar para o ato de quarta-feira, foi possível ver que muitas das novas disciplinas estão sem professores, porque não há quem as ministre.

— Em uma sala em que fomos, a galera estava desenhando, porque não tinha conteúdo. Em outra, três turmas saíram mais cedo porque não tinha professor de Mundo do Trabalho — conta o estudante.

O Cpers, sindicato que representa os professores da rede estadual de ensino, também estará presente na aula pública. Na opinião da presidente da entidade, Helenir Schürer, se, antes da reforma, não preparava bem o aluno para concorrer a uma vaga de trabalho, agora tampouco prepara bem para o vestibular ou para a vida, tanto pela carga horária das disciplinas como pela falta de preparação dos professores.

— Os professores ficam ansiosos, e isso gera o adoecimento da categoria. Quando tu é professor, tem que se sentir preparado para ir para a frente da sala de aula. Hoje, os professores vão preocupados, porque não têm clareza sobre o que devem fazer. Precisamos clarear isso — defende Helenir.

-GZH

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