Conecte-se conosco

Agropecuária

Dia Mundial do Café: veja curiosidades da bebida que virou cultura e história no Brasil e no mundo

Publicado em

em

O café está enraizado na cultura e no comportamento brasileiro e global. Seja quente ou gelado, o famoso cafezinho está presente em mais de um momento do dia. Não é à toa que é a segunda bebida mais consumida do mundo, atrás apenas da água. Para celebrar o Dia Mundial do Café, comemorado neste 14 de abril, o Correio do Povo separou algumas curiosidades que integram a história da bebida

Um pastor de cabras africano pode ter sido o responsável pela descoberta do café

O café veio da África, mais precisamente da Etiópia. O responsável por descobrir seu uso/consumo seria um pastor de cabras africano, com a ajuda de um monge. Depois, a Europa foi quem difundiu o consumo da bebida pelo globo. 

De acordo com a Lenda de Kaldi, registrada em manuscritos do Iêmen no ano de 575 d.C, o pastor Kaldi enquanto cuidava do seu rebanho observou que as cabras ficavam cheias de energia após mastigarem os frutos de coloração amarelo-avermelhada.

Apesar de ser considerada uma lenda, registros históricos indicam que foi nesta época que a exploração de diferentes possibilidades de consumo do café começou a se difundir. Na Etiópia, por exemplo, o fruto era consumido, mastigado, preparado como chá e até fermentado. 

Brasil é o segundo maior consumidor de café do mundo

Depois dos norte-americanos, os brasileiros são os que mais consomem café no mundo. A diferença para os Estados Unidos é de 4,7 milhões de sacas. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), o Brasil consumiu 21,3 milhões de sacas entre novembro de 2021 e outubro de 2022. Este volume representa 41,8% da safra de 2022, que foi de 50,9 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Mas é de longe o maior produtor do grão

Se no consumo o Brasil ocupa a vice-liderança, na produção e exportação dispara na frente: é responsável por cerca de um terço da produção mundial. Esse status se mantém por mais de 150 anos. Em 1850, o país já era o maior produtor mundial com 40% da produção. A cidade de Vassouras, no Rio de Janeiro, era considerada a capital do café do mundo.

Hoje, os Estados Unidos e a Europa são os principais destinos do grão brasileiro. O produto é o 5º na pauta de exportação nacional, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

O café já foi proibido em alguns países

A segunda bebida atualmente mais ingerida no mundo já foi considerada perigosa em alguns países. Isso porque era considerada estimulante, e deixar uma população acordada poderia causar transtornos. Sob este argumento ele foi proibido na Turquia no século 14, com pena de seis meses de prisão para quem fosse pego no flagra. 

No século 16, o governador de Meca mandou fechar todos os espaços de venda e consumo de café, com penas severas para quem fosse visto bebendo ou comercializando o grão. O perigo, neste caso, estava nas cafeterias onde os homens se reuniam para tomar café e falar sobre política e filosofia. 

Café leva o Brasil aos Jogos Olímpicos de 32

Dois episódios marcaram o ano de 1932: a Grande Depressão e os Jogos Olímpicos de 1932, nos Estados Unidos. Assolado pelas consequências da crise, o presidente Getúlio Vargas apostou na venda do café para financiar a ida de atletas para Los Angeles, na Califórnia. Para driblar a longa e cara viagem, os atletas embarcaram em um navio com milhares de sacas do grão do café. O intuito era vender o produto nos portos por onde passaram e, assim, garantir a participação do país na décima edição dos Jogos Olímpicos. A meta não foi batida e apenas 67 dos 82 atletas desembarcaram para competir.

-correio do povo

Continue lendo
Clique para comentar

Deixe uma Resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Agropecuária

COLHEITA DE TRIGO NO RS COMEÇA COM PREOCUPAÇÃO SOBRE PREJUÍZOS

Publicado em

em

Os primeiros relatos da colheita de trigo de 2023 viraram sinônimo de preocupação para os produtores gaúchos. Com as geadas de agosto e a chuva recorde de setembro, até 20% do potencial produtivo da cultura pode ter sido comprometido com as adversidades climáticas e proliferação de doenças só no noroeste gaúcho, estima a Emater. 

Em algumas cidades do norte do RS, choveu mais de 400 milímetros em poucos dias, o que favoreceu o desenvolvimento de doenças como a giberela, que inviabiliza o desenvolvimento do cacho e ocasiona má formação dos grãos.

— Alguns municípios e produtores que começaram a colheita relatam muitos danos e uma quebra considerável na produtividade. Já temos colegas fazendo perícia para seguro rural. O cenário está complexo e devemos ter produtividades bem variadas na região — descreve Fábio Pasqualotto, gerente regional da Emater em Ijuí. 

Na região de Ijuí, foram mais de 358 mil hectares plantados com trigo em 44 municípios. Até o momento, há menos de 5% de área colhida. No RS, o número é de 1%, segundo o informativo conjuntural da Emater divulgado na quinta-feira (28). 

Produtores revisam projeções

Em Santa Rosa, na Região Noroeste, o agricultor Décio Schleger plantou 75 hectares de trigo. A expectativa era alta: em junho, todos os panoramas apontavam para safra recorde de trigo no RS em 2023. Por isso, o plano de Schleger era colher cerca de 60 sacas por hectare. Agora, ele já sabe que não vai alcançar essa produtividade neste ano. 

— Botamos tudo certo, desde nitrogênio até aplicação de fungicida, e estava indo tudo bem. Agora, veio a chuvarada e estragou praticamente 100%, porque trouxe as doenças causadas pela chuva — diz.

No município de Erechim, muitas lavouras registram presença de fungos enquanto as plantas começam a formar as espigas. 

— Visualmente, é um trigo que teria potencial pra colher de 80 a 90 sacas por hectare, mas hoje, em razão da giberela, praticamente 50% da produção está comprometida. Já investimos a mais do que era necessário e não sabemos o que vamos fazer, se vamos investir mais, porque o que tinha de recursos já esgotou tudo — afirma o agricultor Marcelo Balestrin. 

Em Marau, o produtor Rodrigo Coradi esperava repetir pelo menos em parte o recorde que bateu em 2022: no último ano, ele colheu 95 sacas por hectare. Mas, em 2023, a projeção é que a colheita não chegue a 60 sacas. 

— O nosso custo de plantação gira em torno de 70 sacas por hectare. E caso venha a se confirmar esse cenário, vamos acabar colhendo 60 sacas, ou seja, vai faltar 10 para pagar o que foi investido. A conta não fecha. Isso dá quase R$ 600 por hectare de prejuízo — relata.

Por causa da chuva, foi inviável aplicar os defensivos na lavoura.

— A terra fica cheia de barro e não dá para entrar. Além disso, para fazer a aplicação, é preciso ter um período sem chuva para o inseticida ser absorvido pela planta e surtir efeito. Desse jeito, mesmo com o controle químico que é feito, esse clima quente e a umidade alta faz com que os fungos se proliferem — explica Coradi.

A situação em Passo Fundo 

A área plantada de trigo na região de Passo Fundo é de 135,7 mil hectares em 42 municípios em 2023. Desses, cerca de 45% do plantio está na fase de floração, etapa em que se projetam os grãos no cacho e uma das mais sensíveis a alta temperatura, excesso de chuva e umidade. 

Segundo o gerente regional da Emater em Passo Fundo, Dartanhã Vecchi, ainda é cedo para falar em prejuízos na região, visto que o desenvolvimento do trigo ocorria dentro do esperado até o início da chuva. 

— É um cenário que preocupa, sim, mas temos um mês pela frente. O momento agora é de atenção para tentar manter a melhor sanidade possível da planta e as fases vegetativas. Para isso, é necessário que se siga os cronogramas e as orientações agronômicas, com os  tratamentos sanitários e monitoramentos das doenças para este momento — orienta Vecchi. 

O clima excessivamente úmido, que favorece a proliferação de doenças, ameaça a confirmação do potencial produtivo do trigo, especialmente após a maturação. Segundo o boletim da Emater, se houver atraso na colheita, os grãos podem atingir níveis de qualidade que “inviabilizam a utilização pela indústria de panificação”. 

— Estamos em um período crucial das culturas mais tardias, como o trigo. Os grãos já passam da fase final da floração e vão ser atingidos com ainda mais severidade se confirmar a previsão de chuva que temos para os próximos 10 dias — pontua Pasqualotto.

-GZH

Continue lendo

Agropecuária

PREÇO DO TRIGO ACUMULA QUEDA DE 27% NO ANO

Publicado em

em

O mercado de trigo encerrou a primeira quinzena de setembro com preços em baixa, em um movimento puxado pela queda acentuada das cotações no Paraná. Enquanto a tonelada do cereal recuou 18% na média das regiões produtoras desde o início do mês, no Rio Grande do Sul a redução ficou próximo de 5%, de acordo com levantamento do economista Elcio Bento, da consultoria Safras&Mercado. No Estado, as negociações da commodity estão travadas e os últimos relatos indicaram compras fechadas pelo patamar de R$ 1,1 mil a tonelada.

Desde o início do ano até a primeira metade de setembro, os preços do trigo acumulam queda de 27% no Rio Grande do Sul e 42% no Paraná, calcula Bento. A disparidade entre os dois estados, que juntos respondem por mais de 90% do trigo produzido no Brasil, é explicada pela sazonalidade de oferta e pelo fator climático. “No Paraná, até agora a safra está sendo colhida num ritmo bem forte e não houve grandes perdas. Os gaúchos já têm lavouras prejudicadas pelo excesso de chuva e, olhando-se os mapas pluviométricos para os próximos meses, parece pouco provável que a safra consiga passar ilesa”, compara o consultor.

No caso do Rio Grande do Sul, segundo Bento, a incerteza quanto ao tamanho do impacto das precipitações frequentes e intensas na produtividade e na qualidade do grão paralisaram as negociações. A chuva prolongada é associada ao retorno do fenômeno El Niño. “O que conta a favor das lavouras gaúchas é que há muito pouco trigo pronto para colher. O produtor eleva seus pedidos; os moinhos estão relutantes em comprar porque a percepção é que, se os preços no Paraná continuarem caindo, logo será possível eles comprarem do Paraná”, avalia Bento.

De acordo com dados da Emater/RS-Ascar, a maior parte das lavouras de trigo gaúchas está nas chamadas fases reprodutivas, sendo 41% na etapa de floração e 34% na de enchimento de grãos. O restante está em desenvolvimento vegetativo (19%) e maturação (6%). A área cultivada no ciclo 2023 é estimada em 1,5 milhão de hectares, com uma expectativa de colheita de 3.021 quilos do cereal por hectare.

Diante da sequência de chuvas no Estado, representantes da empresa de assistência técnica e entidades de agricultores vêm manifestando preocupação com acamamento de plantas e probabilidade de aumento da ocorrência de doenças fúngicas, especialmente nas espigas, o que compromete o desenvolvimento dos grãos e seu uso na produção de farinha, derrubando as cotações. “Se tiver trigo no Rio Grande do Sul de baixa qualidade, ele vai ter de ser vendido para o mercado internacional e até para (a indústria) de ração animal. O trigo de boa qualidade vai ficar mais valorizado, mesmo assim a gente tem uma tendência de preços em baixa”, diz Bento.

Segundo o analista, o cenário interno também é influenciado pelos preços internacionais. Na Argentina, por exemplo, as cotações atuais do cereal são 20% inferiores às do mesmo período do ano passado. Na Bolsa de Chicago (CBOT), a queda na mesma base de comparação é de 26%. “A gente tem um cenário internacional de preços mais acomodados. Uma safra cheia (no Rio Grande do Sul) achataria ainda mais os preços. Mas a gente sabe que a safra não deve ser cheia, isso já deve reduzir um pouco o impacto baixista das cotações”, prevê Bento.

-CORREIO DO POVO

Continue lendo

Agropecuária

Moradores do campo também são afetados pela fome no Brasil

Publicado em

em

A zona rural brasileira é considerada um celeiro do mundo. O país está entre os cinco maiores exportadores mundiais de produtos agropecuários, principalmente, soja, milho, açúcar, suco de laranja e carnes de frango e bovina. Além disso, é responsável por alimentar quase 800 milhões de pessoas no mundo, segundo estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Esse alimento, entretanto, nem sempre chega à mesa de quem o produz, o morador do campo. Seis em cada dez habitantes (63,8%) de áreas rurais apresentam algum grau de insegurança alimentar, ou seja, não se alimentam de forma adequada.

Os dados são da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) que entrevistou 35 mil pessoas em 2022. A pesquisa mostra que dois em dez moradores (18,6%) do campo estão numa situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passam fome.

Nas cidades, os percentuais são um pouco mais baixos: 57,8% são afetados por insegurança alimentar e 15% enfrentam a fome.

Em 2022, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez uma análise que mostrava que a insegurança alimentar começava a piorar nas áreas rurais do país – com o índice de famílias que enfrentava essa dificuldade subindo de 35,3% em 2013 para 46,4% em 2018.

A análise foi feita a partir dos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017-2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Isso significa fome”, explicou o pesquisador do Ipea Alexandre Arbex Valadares, em nota, à época.

“Os dados da POF-2018 surpreenderam porque, nas pesquisas anteriores, os indicadores apontavam uma tendência de superação da insegurança alimentar no país, trajetória que mudou sensivelmente em 2018”, completou.

O Ipea constatou ainda que a renda das famílias rurais caiu de 2008 a 2018, o que mostra um empobrecimento dessa população.

Famílias 

As irmãs Daiane e Gabriela vivem com sete crianças e adolescentes (entre 2 e 15 anos) na zona rural de Guapimirim, na região metropolitana do Rio de Janeiro, em uma casa humilde de alvenaria – parte emboçada, parte com tijolo aparente – onde antes havia acabamento. A única fonte de renda das duas é o Bolsa Família e isso evita que elas passem fome. Mesmo assim, o dinheiro é curto para garantir comida durante todo o mês.

“A gente recebe [o Bolsa Família] e consegue abastecer o armário. Mas, no fim do mês, é difícil. A gente fica sempre preocupado se vai faltar comida. Mas tem algumas pessoas que ajudam a gente”, conta Daiane, que está treinando para poder trabalhar como cuidadora e melhorar a renda da família.

A pesquisa constatou também que, em 2018, havia menos dinheiro disponível para a compra de comida do que dez anos antes. De acordo com o Ipea, houve uma queda de 14% dos gastos dessas pessoas com alimentos nesse período.

Maria e Everaldo moram com os três filhos, em São José da Tapera, na caatinga alagoana, em uma casa precária, feita com estacas de madeira, de apenas dois cômodos. Em um deles dormem as crianças. O outro serve de quarto para o casal, banheiro e cozinha.

Os alimentos e a água são armazenados em dois tambores de plástico. Everaldo não consegue trabalhar na terra, devido a um problema na coluna. E os R$ 600 que ganha do Bolsa Família não são suficientes para garantir uma alimentação adequada a todos.

São duas refeições por dia, nada além disso. E mesmo essas refeições precisam ser controladas para que não falte comida até o fim do mês. “São R$ 600 pra tudo. E o Everaldo ainda toma remédios controlados. Não tem como comer mais do que duas vezes por dia. É complicado”, conta Maria.

Concentração de terra

Segundo o pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Sérgio Sauer, a fome no campo é resultado da “profunda desigualdade socioeconômica” que afeta a sociedade brasileira. Na zona rural, isso se materializa na concentração de terra que faz com que muitos moradores do campo não tenham acesso a um local para cultivar.

“Além da desigualdade estrutural, proporcionalmente, há mais gente com fome no campo devido a problemas históricos na formulação e implementação de políticas governamentais ou estatais. Historicamente, inclusive com as políticas públicas socioassistenciais, houve uma concentração de investimentos nas cidades”, explica Sauer.

A fome não poupa nem os próprios produtores de alimentos. A pesquisa da Penssan mostrou que a fome atingia 21,8% de agricultores familiares e produtores rurais no país. A insegurança alimentar, em todos seus graus, afetava 69,7% dessas pessoas.

No Norte do país, a insegurança alimentar atinge 79,9% dos produtores rurais/agricultores familiares. Quatro em dez dessas pessoas (40,2%) passam fome. No Nordeste, 83,6% enfrentam insegurança alimentar em algum grau e 22,6% encaram a fome.

“Do ponto de vista ético e de direitos humanos, é inadmissível que o espaço produtor de alimentos abrigue pessoas passando fome. Essa contradição é o elemento – político, ético, humano – que torna a fome no campo tão marcante, inclusive porque não é possível justificá-la com argumentos equivocados como, por exemplo, ‘há fome porque faltam alimentos’”, destaca o pesquisador.

Sauer afirma que, nos últimos anos, houve um desmantelamento de políticas públicas voltadas para a população do campo, o que, junto com a pandemia de covid-19, fez com que a situação piorasse.

“O crescimento da fome no campo, inclusive entre produtores de alimentos, se deve aos cortes orçamentários, quando não à extinção de políticas públicas, desenhadas para atender à população do campo. A fome aumentou, portanto, devido aos cortes nos investimentos e ao desmantelamento de políticas depois de 2016, particularmente depois de 2018.”

Entre as políticas desmanteladas nos últimos anos, segundo Débora Nunes, da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), estão o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que incentiva a compra de alimentos produzidos por agricultores familiares, e o acesso ao crédito para pequenos produtores rurais.

“A gente imagina que, quem está no campo, teria melhores condições de produzir o alimento. Por isso, é importante a gente relacionar a fome à garantia de políticas públicas que contribuem, para quem está no campo, produzir o alimento, com acesso ao crédito, à política da reforma agrária, a políticas públicas como o PAA, como PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar], que ajudam no fortalecimento da produção e, consequentemente, fazem com que as famílias tenham melhores condições de existência”, afirma Débora.

Segundo ela, a fome no Brasil também tem relação direta com o modelo agrícola adotado no país, que privilegia a exportação de commodities, como a soja, em vez da produção de alimentos para os brasileiros.

“O modelo do agronegócio exige a concentração da terra, não gera emprego e não produz alimentos, não produz comida, produz commodities para exportação. E é um modelo que destrói o meio ambiente, com o uso intensivo de agrotóxicos, o envenenamento do nosso lençol freático e a destruição das nossas matas.”

“O outro modelo é o da agricultura familiar, da reforma agrária, que justamente propõe o inverso, partindo da democratização do acesso à terra. É um modelo que compreende que, para sua existência, precisa ter uma relação saudável com o meio ambiente. Só consigo ter água na minha cacimba, se preservamos o ambiente”, completa.

Para Sergio Sauer, combater a fome no campo exige “medidas estruturantes”, com políticas de Estado que independam do governo da ocasião e que permitam o acesso da população à terra para produzir.

“As experiências históricas de acesso à terra (criação de projetos de assentamentos) ou garantia de permanência na terra (reconhecimento de direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais e povos indígenas) demonstram claramente a diminuição da fome e melhorias nas condições de vida no campo”, ressalta.

“Esses programas são, ou deveriam ser, acompanhados de outras políticas públicas (assistência técnica, crédito, construção de infraestrutura, acesso à saúde, acesso à educação, etc), que resultam diretamente na produção de alimentos, consequentemente na diminuição da fome e na melhoria da vida no campo”, conclui Sauer.

Governo

Segundo a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lilian Rahal, historicamente “a pobreza é mais dura” na zona rural e lembra que essas áreas  englobam populações tradicionais que são muito afetadas pela desnutrição.

“Ela é mais dura porque você considera comunidades indígenas, reservas extrativistas e populações quilombolas onde os indicadores de desnutrição, geralmente, têm sido maiores. E mesmo nos últimos anos foram os núcleos duros da desnutrição. É onde a gente tem que fazer nossas políticas chegarem. É claro que esse núcleo duro se ampliou nas áreas rurais e cresceu muito nos últimos anos. Isso se reverte enxergando primeiro essas populações, buscando onde estão e criando políticas públicas específicas, desde políticas de saúde até as políticas sociais”, afirma.

A secretária de segurança alimentar e nutricional do MDS, Lilian Rahal, durante entrevista à Agência Brasil

A secretária de segurança alimentar e nutricional do MDS, Lilian Rahal, durante entrevista à Agência Brasil – Antonio Cruz/ Agência Brasil

De acordo com a secretária, o governo quer reforçar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com a recuperação do orçamento e uma reformulação com foco nas famílias mais vulneráveis.

“Nossa ideia é focar o PAA cada vez mais nas famílias do Cadastro Único, nas mulheres e famílias, para a compra de alimentos. Nos últimos anos, o programa deixou de ser operado com as organizações da agricultura familiar. Houve uma concentração de operações nas prefeituras e produtores de pessoas físicas. Nossa ideia é, de alguma forma, retomar a atuação com as organizações da agricultura familiar até para poder fortalecer o modelo associativo.”

A secretária destacou que, apesar disso, o PAA continuará atuando com os entes federativos. Ela ressaltou também a importância de ter programas que fomentam a inclusão das famílias do campo no setor produtivo, seja pela própria agricultura seja por outras atividades empreendedoras.

“A gente tem que enxergar essas famílias, saber as carências e organizar uma oferta de políticas públicas para que a situação possa ser revertida no curto prazo. Isso passa pela transferência de renda, mas, às vezes, pela própria oferta de comida. Programas que comprem a comida que elas produzem, mas também façam a comida chegar onde não está chegando”, afirma.

Ela destacou também a importância de garantir o acesso à água. “A insegurança hídrica potencializa a insegurança alimentar. Tem programas que nos permitem reduzir isso de forma bastante concentrada, como o programa de cisternas no semiárido. Nossa proposta é chegar onde não chegamos. Já tem mais de 1 milhão de cisternas implementadas, mas ainda tem cerca de 300 mil a 350 mil famílias que precisam receber cisternas.”

Agência Brasil publica nesta terça-feira (21) a última parte do especial Prato Vazio: um retrato da fome no Brasil 

-AGÊNCIA BRASIL

Continue lendo