Faz 20 anos que Patrícia Reis Machado não toma um banho de chuveiro. Desde que perdeu o apartamento, a pensionista de 50 anos passou a viver em uma casa de madeira onde não há banheiro. A ducha, hoje, é uma mangueira enrolada na parede, esticada do pátio até a peça improvisada ao lado da cozinha, sem luz, privada ou encanamento.
— Se tá frio, a gente esquenta a água no fogão e toma banho de bacia. Mas quando não tem gás, a gente esquenta na rua, com o que acha — explica, sobre as saídas encontradas por ela e os cinco filhos, moradores do bairro Guajuviras, em Canoas.
Se não houver atraso no cronograma, Patrícia e outros 358 vizinhos do município da região metropolitana de Porto Alegre terão, ao menos nesse quesito, a dignidade restabelecida ainda em 2022. Canoas teve a maior adesão ao programa Nenhuma Casa Sem Banheiro, no qual os imóveis são contemplados com um projeto elaborado por um arquiteto e verba para a execução da obra de uma unidade sanitária completa, com saída de esgoto, instalação hidráulica, elétrica e dos equipamentos para higiene pessoal. Em casos especiais, um tanque também é entregue para quem quiser um ponto extra.
— É o meu sonho. Não tomo banho de chuveiro há 20 anos — repete, ansiosa, Patrícia.
Sem custos à população em vulnerabilidade, o projeto foi criado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), no final de 2021. Ele é viabilizado por uma parceria entre a entidade e o poder público. Inicialmente, o programa previa melhorias em toda a residência, mas a partir de janeiro de 2022, teve o foco alterado com base em um dado alarmante: 1,6 milhão de brasileiros não têm banheiro em casa, segundo o IBGE, cerca de 30 mil somente na Grande Porto Alegre, de acordo com o presidente do CAU/RS, Tiago Holzmann da Silva.
-GHZ