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A golpista australiana que roubou quase R$ 100 milhões e desapareceu misteriosamente

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Quando a golpista Melissa Caddick desapareceu de sua casa luxuosa no leste de Sydney em novembro de 2020 — e apenas seu pé parcialmente decomposto foi encontrado na praia meses depois —, houve um frenesi na Austrália.

O caso pegou de surpresa investidores, deixou a polícia desconcertada e capturou o imaginário de uma nação.

A golpista inspirou um podcast de sucesso, uma dramatização para a TV e uma série de teorias bizarras — incluindo a de que ela foi engolida por um tubarão ou decepou o próprio pé para despistar a polícia.

Um longo inquérito conduzido pelo Tribunal de Justiça responsável por investigar mortes no Estado analisou a investigação policial supostamente falha, depoimentos conflitantes do marido e inúmeras especulações sobre o destino de Caddick.

A corte determinou nesta quinta-feira (25) que Caddick está morta — embora o que aconteceu exatamente com ela permaneça um mistério.

“A conclusão a que cheguei é que Melissa Caddick está morta. No entanto… não considero que as evidências permitam uma resposta positiva sobre como ela morreu, ou quando e onde isso aconteceu”, escreveu Elizabeth Ryan, magistrada legista adjunta do estado.

A última manhã

Para a maioria, a história de Melissa Caddick começou com a notícia de que a aparentemente bem-sucedida consultora financeira estava desaparecida.

Mas a vida dela tinha começado a desmoronar meses antes, quando o órgão de fiscalização financeira da Austrália recebeu uma denúncia de que ela estava usando a licença de consultora financeira de uma amiga, simplesmente colocando seu próprio nome no documento.

Os reguladores suspeitam que ela tenha roubado até 30 milhões de dólares australianos (cerca de R$ 97 milhões) de mais de 60 clientes, incluindo muitos de seus familiares e amigos, para ajudar a financiar um estilo de vida luxuoso.

Isso incluía viagens ao exterior em jatos particulares, carros de luxo, roupas de grife e joias caras.

Os métodos dela não eram “particularmente complicados”, de acordo com a magistrada.

À medida que novos clientes davam dinheiro a ela para investir, ela usava parte para pagar dividendos aos clientes existentes antes de pegar — e gastar — o resto.

Ryan afirmou que ficou impressionada com a “poderosa impressão de riqueza e sucesso” que Caddick causou em seus clientes e possíveis investidores.

“Igualmente significativa foi a confiança que eles tinham nela… quase todos eram membros imediatos da família ou amigos próximos dela e da família”, ela acrescentou.

Um potencial investidor relembrou: “Eu queria usar pessoas de sucesso como modelo para mim e para nossa família, e Melissa parecia ser bem-sucedida”.

Mas tudo isso veio abaixo em 11 de novembro de 2020, quando a polícia bateu em sua porta ao amanhecer.

Relatos conflitantes

A última vez que se tem confirmação que Melissa Caddick foi vista, foi durante a batida policial em sua casa.

O marido dela, Anthony Koletti, disse à polícia que acreditava que ela havia saído para correr na manhã seguinte. O carro dela e todos os seus pertences pessoais foram deixados para trás.

Mas ele só reportou seu desaparecimento mais de 30 horas depois, e só depois que ele ligou para o tribunal onde ela deveria comparecer para uma audiência e pareceu surpreso por ela não ter aparecido.

A polícia trabalhou inicialmente com duas teorias — que Caddick ainda estava viva e havia se escondido para escapar da Justiça, ou que havia tirado a própria vida.

Mas foi alegado também durante o inquérito como Koletti, cabeleireiro e DJ, se comportou de forma estranha após o desaparecimento da esposa, levando a polícia a suspeitar que ele poderia estar envolvido.

Koletti negou ter qualquer conhecimento dos crimes da esposa ou qualquer envolvimento no desaparecimento dela, e a polícia diz que não descobriu nenhuma evidência que diga o contrário.

Mas um investigador disse ao tribunal que Koletti “não parecia muito preocupado” quando a esposa desapareceu.

O sargento-chefe Michael Kyneur também contou que Koletti visitou uma área no topo de um penhasco perto de casa e tirou uma foto de uma pegada, uma ação que o policial descreveu como “extraordinária”.

“É um parque para cães. É como dizer que encontrei uma pegada na Praia de Bondi.”

Também foi dito no tribunal que Koletti havia enviado mensagens de texto do telefone de Caddick fingindo ser ela, afirmando para a polícia que estava “muito ocupada” para comparecer a um interrogatório, e deu versões conflitantes dos eventos.

Por exemplo, ele foi capaz de dar uma descrição do que a esposa estava vestindo na manhã em que desapareceu, apesar de também ter dito que não a tinha realmente visto, segundo a polícia.

Além disso, Koletti havia contado sua versão dos eventos ao lançar um álbum conceitual de música contendo faixas com títulos como “Melissa Is Missing” e “Above the Law”, que podem ser traduzidos respectivamente como “Melissa está desaparecida” e “Acima da Lei”.

Foi “lamentável” que Koletti não tenha feito um relato “completo e franco” do que aconteceu, declarou a magistrada nesta quinta-feira.

Críticas à investigação

O caso teve uma reviravolta macabra em fevereiro de 2021 com a descoberta de um pé em decomposição em uma praia remota a 500 quilômetros ao sul de Sydney.

Especialistas associaram o pé a Caddick por meio de uma análise de DNA, mas uma autópsia não conseguiu determinar se foi separado do resto do corpo à força ou por decomposição.

O inquérito ouviu uma série de teorias para explicar como o pé de Caddick foi parar em Bournda Beach, incluindo que um tubarão comeu e depois regurgitou partes do corpo dela.

A polícia até considerou jogar carcaças de porco com tênis de corrida no mar para determinar como o comportamento do tubarão ou as correntes oceânicas poderiam ter desempenhado um papel nisso.

Um cirurgião ortopédico afirmou que era improvável que Caddick pudesse ter amputado o próprio pé, uma vez que exigiria uma “força significativa” para cortar o osso, causaria uma grande perda de sangue e exigiria atendimento pós-cirúrgico especializado.

Mas os cientistas apresentaram uma explicação simples no inquérito.

Oceanógrafos disseram que as correntes marítimas poderiam facilmente levar o pé até aquela distância, enquanto um patologista descreveu como os pés humanos podem se desprender dos corpos durante o processo de decomposição.

O inquérito também ouviu críticas sobre a forma como a polícia lidou com o caso.

Policiais designados para a investigação se apegaram demais à teoria de que ela havia desaparecido voluntariamente, alguns sugeriram.

A análise da cena do crime na casa só foi feita 19 dias após o desaparecimento de Caddick, e um advogado que auxiliava a magistrada questionou por que o esquadrão de homicídios não foi acionado imediatamente, nem que fosse apenas para descartar o crime.

Outro detetive expressou surpresa pelo fato de a Polícia de Nova Gales do Sul só ter procurado o depoimento do órgão de fiscalização financeira sobre Caddick — que apresentou o caso contra ela — alguns meses após seu desaparecimento.

O inquérito também recebeu a informação de que Caddick tinha uma apólice de seguro de vida, que incluía cobertura para suicídio, e havia feito uma série de referências sobre acabar com sua vida ao longo dos anos — mas a polícia inicialmente dedicou recursos limitados a essa linha de investigação.

A magistrada afirmou nesta quinta-feira que a descoberta do golpe de Caddick pode ter desencadeado uma “ferida narcísica”, com a ilusão de sua riqueza e sucesso destruída.

“A investigação e o mandado de busca da Comissão de Valores Mobiliários e Investimentos da Austrália provavelmente causaram nela um nível catastrófico de vergonha e desespero”, afirmou Ryan.

“Ela pode muito bem ter chegado à conclusão de que acabar com sua vida era a única opção.”

Mas a maneira como ela morreu vai permanecer em aberto, segundo ela.

Igualmente não resolvidas estão as perdas dos clientes dela, muitos dos quais viram enormes quantias de dinheiro desaparecer.

“Vendi meu negócio porque tinha a impressão de que meu dinheiro estava seguro, e me aposentei em 2017”, uma vítima contou em depoimento.

“Para piorar a situação, ela também roubou o dinheiro da minha mãe, esposa, sogra, filho, irmão e irmã… acabando com as economias de três gerações da minha família.”

-G1

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MULHER NUA É ABORDADA EM ORLA E CONFESSA TER MATADO O PAI

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Uma mulher de 41 anos foi presa em flagrante por homicídio na cidade de Itanhaém (SP), neste sábado (16). Ela caminhava nua pela orla da praia quando foi abordada por guardas municipais, momento em que confessou ter esfaqueado o próprio pai, de 74 anos.

Os policiais foram até o apartamento onde pai e filha moravam e encontraram a vítima morta com várias perfurações causadas por faca. As informações são da Secretaria de Estado de Segurança Pública.

A mulher recebeu atendimento médico e foi levada à delegacia do município, onde permaneceu presa. Ela disse à polícia que cometeu o crime devido ao estresse acumulado nas atribuições por cuidar do idoso.

– O cenário que nós colhemos é de uma pessoa que tinha a incumbência de cuidar do seu pai e esse cenário, essas atribuições dela, de cuidados com o pai foram se alargando ao longo do tempo por conta dele ter ficado mudo – disse o delegado Luiz Carlos Vieira.

A faca e equipamentos eletrônicos encontradas no local do crime foram recolhidos para perícia.

*Com informações AE

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Câmara de Vereadores de Constantina Informações

INFORMATIVO DA CÂMARA DE VEREADORES DE CONSTANTINA 16/08/2025

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JUIZ QUE LIBEROU PRESO COM 86 PASSAGENS É MARIDO DE TIBURI

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No fim de julho, uma decisão do juiz Rubens Casara, da 43ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, provocou forte repercussão no meio jurídico e na opinião pública. O magistrado determinou a soltura de Patrick Rocha Maciel, de 20 anos, preso por roubo e dono de um histórico criminal impressionante: 86 anotações envolvendo furtos, porte de arma, lesão corporal e ameaças.

A ordem de liberdade ganhou contornos ainda mais controversos quando veio à tona a vida pessoal de Casara. Casado com a filósofa petista Marcia Tiburi — célebre pela frase “sou a favor do assalto”, que ela chama de “provocação filosófica” —, o juiz divide com a esposa um histórico de militância política e trabalhos conjuntos, como a peça Um Fascista no Divã, obra que satiriza a direita e critica Jair Bolsonaro (PL).

No caso de Maciel, o Ministério Público havia se posicionado pela manutenção da prisão preventiva. As imagens das câmeras de segurança mostravam o acusado arrombando portões e levando equipamentos eletrônicos de uma farmácia em Ipanema, na Zona Sul do Rio. Ainda assim, Casara entendeu que “a existência de anotações na folha penal não é pressuposto da prisão cautelar”.

O magistrado impôs medidas alternativas brandas: comparecimento mensal em cartório e proibição de deixar o estado por mais de sete dias, ambas válidas por apenas 100 dias. Críticos consideraram a decisão um símbolo da fragilidade do sistema judicial. O senador Sergio Moro (União Brasil-PR), por exemplo, reagiu nas redes, afirmando que “a porta giratória das audiências de custódia precisa acabar”.

Rubens Casara é autor de obras como Prisão: Além do Senso Comum e Estado Pós-democrático: Neo-obscurantismo e Gestão dos Indesejáveis. Suas ideias partem de um viés antipunitivista e anticapitalista. Sua esposa, Marcia Tiburi, candidata derrotada do PT ao governo do Rio em 2018, também adota discursos semelhantes, associando o neoliberalismo a formas de opressão comparáveis ao ato de roubar.

Desde a década passada, Casara já demonstrava alinhamento político com a esquerda, chegando a pendurar um retrato de Che Guevara em seu gabinete e a participar de atos com líderes do PSOL e MST. Em 2016, discursou contra o impeachment de Dilma Rousseff na orla de Copacabana, dizendo falar “como juiz de direito, não de direita”

Por essa razão, foi investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por atuação político-partidária, mas o caso acabou arquivado — decisão reforçada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em voto do ministro Ricardo Lewandowski, coincidentemente um indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Suprema Corte.

Membro do grupo Prerrogativas, que se opôs à Lava Jato e defende Lula, Casara protagonizou embates diretos com Sergio Moro. Em 2015, em audiência no Senado, comparou a proposta de prisão após segunda instância às práticas da Alemanha nazista e do fascismo italiano. A medida era algo defendido pelo hoje senador.

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